domingo, 26 de fevereiro de 2012

Projeção


Era um artigo sobre filosofia, com certeza. Ou algo que ele certamente estava devorando com a mente, deixando-a fluir, viajar – como gostava de denominar -.
Estava tão concentrado absorvendo conhecimentos que não ouviu seus passos passeando pelo quarto, até que um sibilo profundo de uma respiração o fez olhar para o lado e lá estava ela;
Ainda ofegante, ainda suada, ainda desejosa, vestindo a blusa dele pelo avesso e com os cabelos bagunçados caindo em leves cachos sobre seus ombros – os quais há pouco haviam sido apertados por mãos macias e exigentes -.
Ele conseguia ver seus olhos através dos óculos que lhe davam um sublime tom intelectual e incrivelmente sexy e neles havia uma certeza inquietante, instigante, independente...
Nem lembrava mais sobre o que estava lendo.

A passos lentos ela aproximou-se dele, sem pestanejar empurrou o teclado da máquina para seu devido lugar e, em momento algum, desviando o contato visual, entrelaçou-lhe com as pernas fartas.
Ele só teve o trabalho de puxá-la mais para perto quando sentiu-a brincar com o lóbulo de sua orelha e então já estavam rendidos, entregues ao jogo irresistível de possuir um ao outro. O yin e o yang fundidos, o romantismo lido e o erotismo vivido, o equilíbrio desconexo em mais um momento de prazer.


Entorpecida


No início era ela.
Os planos, os sonhos, os medos, os sentimentos... Mas não mais.
Não apenas ela, mas eu.
Pois somos iguais. Lírico e eu-lírico em uma mesma sintonia, simplesmente porque chega um momento em que não dá mais para ignorar o bater de asas das borboletas.


[...]

A cada passo a certeza de estar entrando em um campo movediço, porém - ainda que exista o medo - há também um consolo: Nossas asas.
Ainda que não esteja fortes o bastante e precisem de muito exercício, estão crescendo. Elas nos livrarão do perigo, nos guiarão para a direção certa ou para onde quisermos ir! São nossas. Somos nós. Isto não vai mudar.
Como chegamos até aqui é um mistério, o que sei é que quero sempre este ardor dentro de mim, aquecendo minhas veias, entorpecendo meus sentidos como uma droga; Meu tipo favorito de droga: A que te trás as melhores sensações, te proporciona as melhores viagens, te provoca seguidas overdoses e você continua vivo e querendo mais.

E quando, por algum motivo - seja ele insegurança ou TPM -, eu pensar - por míseros segundos - que estou esfriando, relembrarei teu sorriso, relerei teus escritos! Será o bastante para trazer-me de volta, o suficiente para me fazer buscar mais de ti.

Ah, terno ladrão de pensamentos e inspiração, nunca hei de te contar  sobre as inúmeras vezes cotidianas que cito seu nome, revejo tuas mensagens, (re)lembro teu toque...
Nunca poderás ver meu sorriso imbecilizado ao ouvir sua voz surpreendida em uma chamada durante a madrugada ou o estranho rufar de tambores que ouço ao ouvir-te desejar "boa noite" ao teu amor;
E, principalmente, em hipótese alguma deverás imaginar que pelúcia alguma se compara ao teu calor, nem travesseiro algum aos teus braços.
Só podes saber o bastante, a ponta do iceberg, três letras do alfabetário. Nada mais! Para não fazer minha casca de canceriana ser desnecessária, para não expor meu muro - tão duramente construído - ao ridículo.
Entretanto por conter um lado angelical yang tão percentualmente ativo, te presentearei uma dica:
Junta teus retalhos um a um, faz uma corda, escala os malditos tijolos.
Fiquemos ambos protegidos. Do mundo, mas não de nós mesmos.
Quem sabe assim não estejamos criando uma garantia para nossa promessa? Nunca (nos) perder(mos).

"Ninguém venha me dar vida,

que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer (...)"
Já dizia Cecília Meireles.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Este foi inevitável...

Eu já havia decidido que ia parar. Tinha mesmo, juro! Pelo menos por um tempo...
Mas como eu poderia se certas mensagens despretensiosas fazem minha cabeça girar e minhas mãos agirem sozinhas?
Como meus planos seriam postos em prática se no fim do cansativo expediente encontro aquele olhar de cachorro sem dono dos quais sentia, é verdade, certa (alguma? em nível considerável?) falta?
Como se ainda vejo tua pose sorridente, sinto tem abraço apertado e ouço teu tom de voz, constrangido, ao me dizer que estava com saudades?
Como... Só me diga como eu me conteria se ainda tenho um frescor ardente nos lábios e uma certeza na mente: "Pode até não dar totalmente certo, mas errado não dá!"


Ah, doce romance...

sábado, 11 de fevereiro de 2012

~



Guerra de Titãs

Umas palavras trocadas, umas idéias largadas no ar e uma batalha estava sendo travada.
Tão abertamente que ninguém perceberia, tão privada que nem toda publicação lhe daria sentido;
Cada um que expusesse mais de seu íntimo, cada um que desse o melhor de si... As armas estão à mesa, e ao sofá, e a cama! Escolha a melhor e atire. Sem medo.
Quem venceria esta guerra, nada fria?
A provocação de Vênus ou a persuasão de Marte?
Ah, poucos sabiam que era uma batalha com fim já decretado e esse seria, de longe (e principalmente de perto) o mais favorável. Afinal, o que seria melhor que um empate pacificamente envolvente? Todos ganham, certo?
Mais que certo, na verdade.
Eles sabiam que um dia suas projeções sairiam do papel, fariam suas mentes transformarem-nas em ações; O importante era manterem-se juntos! Como esposos, amantes, amigos... O que fosse, portanto que estivessem lado a lado.
E ele era um homem de palavra, ela sabia disso e tinha plena consciência de que iriam além dos signos;
Aquela guerra, tão fajuta, seria regada não a sangue, mas a vinho e – talvez, apenas talvez – ninguém precisasse levar a culpa desta vez...!
Com três pontos e exclamação apenas para temperar o que está por vir, mas antes um desafio: Encontrar a mensagem subliminar que há por trás dela.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

3ª pessoa do singular


                                                                          Do caso reto, mas ainda assim, curvilíneo.

Em uma noite calma e sem surpresas ela havia parado para pensar em seu futuro. E se realmente encontrassem seus rabiscos escondidos embaixo do colchão?
Como saberiam quem era aquele ilustre senhor protagonista de seus textos fantasiosos e enigmáticos?
Estaria, ele, ainda presente em sua vida?
Querendo, então, satisfazer a curiosidade de seus futuros leitores passou a descrevê-lo...
Começou por sua essência.
Um vulcão em erupção. O café do pedreiro ao meio-dia.
A adrenalina dos amantes que fogem dos maridos à surdina da meia-noite.
Quente.
Mas ele era mais!
Ele era o idiota que a fazia sorrir com suas projeções de um futuro bom que deveria existir;
Era seu refúgio de carne e osso, seu amor sempre existente – quase nunca exposto -;
A simplicidade em meio a seu complexo mundo de idéias e conceitos
E, mesmo que muitas vezes ela não quisesse aceitar – e, mesmo que aceitasse, não quisesse externar -, ela sabia o quanto ele era singular, ímpar e único.
E ela?
Não um mero pronome do caso reto, cuja retidão fora substituída por uma mente curvilínea com alto grau de imprecisão...
Ah, pequena testemunha de retalhos, ela era seu pequeno Chaveiro da sorte banhado a clorofila.
Era quem, ao som de Zeca Baleiro, rendia-se aos seus encantos.

                                                               Você me faz parecer menos só, menos sozinho. Você me faz parecer menos pó, menos pozinho quando você diz, o que ninguém diz... ♪

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

I want


                                  ... to satisfy the undisclosed desires in your heart.


Não foi um daqueles reencontros prateados, banhados pela lua cheia, que acontecem num lapso de desespero pela mesmice cotidiana nos quais se busca refúgio no álcool.
Era simplesmente mais uma noite azul-marinho, com algumas estrelas no céu e uma lua que teimava em esconder-se entre as nuvens; Ela não estava em uma mesa reservada, trajando um terninho fino e degustando provocantemente um bom vinho ...
Não.
Estava encostada no balcão,cabelos presos e óculos embaçados, afetada pela terceira dose de uma vodka qualquer - desejando ardentemente que fosse um Sexy on the beach, mas era um drink refinado demais para aquele lugar quase excluído da americanização.
Ele não chegou exalando perfume, sorrisos e sedução, não atraiu todos os olhares para seus músculos e trazia uma expressão tão indecifrável quanto um diagrama Browniano.
E ainda assim se sentiram.
Olharam-se.
Leram-se.
Recordaram-se.
Reencontraram-se.
Assim: Rápido, fácil, sem traumas ou meias-voltas. Como nos velhos tempos.
Então já estavam falando sobre o rumo das vidas, os sonhos, as (não) realizações, o futuro... Tanto havia mudado!
Mas nem tudo.
Instintivamente, sem real intenção (ou não), alfinetavam um ao outro, provocavam um ao outros, testavam, pesquisavam sobre até que ponto os limites poderiam ser ultrapassados. Sentiam que estavam de volta à adolescência e exalavam sexo como se os anos não tivessem trazido maturidade alguma aos hormônios de seus corpos.
Uma leve carícia por cima do jeans desbotado, uma checada na textura da tatuagem, uma procurada por uma nova e a história não terminaria como antes.
Ele já a via além da máscara diária há tempos, suas ameaças e crueldade não eram mais assustadores aos ouvidos dele; Contudo, ele queria mais... Queria - e iria - satisfazer os desejos secretos que ela sempre trouxera em si.
Poderiam culpar o álcool depois.
                                          ... but tonight I'm lovin' you.