quinta-feira, 19 de maio de 2016

Intensa Arritmia

  1. Ele chegou como quem nada pedia, mas que queria tanta coisa que precisei fechar os olhos para não perder o rumo. Foi aí que vieram os lábios, os quais acredito piamente serem uma passagem secreta para a alma; então tomou-me de mim.
Seus beijos me fizeram desconexa como uma funçao do 2o grau em plena redação dissertativa-argumentativa e já não havia ponto de vista consistente o bastante para me fazer querer ir embora. Ou fôlego suficiente para correr.

Destruí minhas defesas. Admito.

Então, sem raciocinar, deixei que ele me guiasse pelas trilhas mais obscuras que haviam dentro de mim; pouco importava se estávamos em duas rodas ou quatro pés, eu só queria me agarrar nele e sentir seu gosto.

Ainda que a estrada se mostrasse tortuosa, ora nos fazendo escalar montanhas, ora nos obrigando a descer até às profundas depressões dos vales, sentir seu calor me era o bastante. Desse modo seguíamos, com os corações em uma valsa arrítmica, guiada por desejos, repressões, gargalhadas e lágrimas, na qual tudo que importa é que estejamos altos e baixos, mas nunca numa linha reta.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Choque Epidérmico




A consciência do compromisso a despertou antes, até, que o despertador, mas o que realmente a acordou foi um ameno suspirar repousando ao seu lado, que dormia como se nada mais no mundo importasse.
Logo, um sorriso sacana se abriu entre seus lábios e o pequeno, ainda que firme, cansaço entre as suas pernas fez o dia parecer lindo, mesmo com cinzentas nuvens carregadas de chuva.
A cama mantinha-se quente, seu sexo mantinha-se quente... Como poderia pensar em frio? Além disso, a lembrança dos toques de outrora a fizeram querer mais daquele calor.
Não fazia ideia de como tamanha avalanche havia se criado, mas quando deu-se conta de si, estava de bruços, clamando (com o próprio corpo) intensamente pela invasão daquela abusada língua que a cada centímetro levava-lhe mais um pouco da compostura, da decência e do mel; e pelos dedos... Ah, aqueles dedos demoníacos que lhe metiam em um desejo, até então, esmagado pelo hálito regado a uísque.
Sentia-se descarada, destemida, não subjugada como poderiam crer. Ao contrário. Aquela era uma posição que a fazia poderosa, pronta e desejosa para o que viesse.
Insinuava-se e Abria-se, cada vez mais, em corpo e alma a fim de que o intruso se inserisse nela e os livrasse daquele precipício sem fim, entretanto, ao senti-lo, afundou-se ainda mais naquela inacabável tempestade de mãos, bocas e cabelo.
Embebedaram-se do gosto um do outro e quando já não podiam mais, explodiram como nunca antes. Os gritos foram abafados, mordidos, apertados, mas os espasmos não poderiam ser contidos e se, somente se, ela parasse por um instante no decorrer daquele dia, sabia que esses ainda estariam lá, latejando-a e fazendo com que ela quisesse (sempre) mais.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Fragrância de um (conhecido) Perfume


O trânsito não fluía e a cada minuto que passava os motoristas a sua frente pareciam mais lerdos, se é que possível. Praguejava a falta de praticidade em meio ao tráfego e a si por não estar em um veículo com maior mobilidade como uma moto, ou um helicóptero, quem sabe... Sorriu ante seu lapso sonhador, apesar de, no momento, desejar apenas um bom banho quente, jantar algo bem leve (isto é, nada de comida de gordo), alguma leitura fácil e cama! Não necessariamente nessa ordem.
Afinal chegou em casa, com cada nervo de seu corpo gritava em tensão, entretanto, essa foi aliviada prontamente ao ser recebido por um terno sorriso tentadoramente inocente.
Sentada no sofá, assistindo a um seriado de comédia que não falava nada de muito relevante, mas a fazia gargalhar daquela forma mágica que ele adorava, estava ela. Seu cheiro de pele suave recém-banhada inundava todo o lugar e quando o cumprimentou com um leve beijo nos lábios, quase a amaldiçoou por intrigante contato. Quanta falta de consideração provocá-lo daquela maneira tão pudica, ainda mais vestindo um robe tão sensualmente simples e, pior ainda, sem nenhuma explícita intenção. Não precisaria de muito mais... Ele  já sentia queimar-se por dentro e ela sabia disso, pois seus olhos denunciavam suas maliciosas intenções cancerianas.
- Como você demorou hoje! – reclamou, já o abraçando para evitar o atrito da reclamação e criar outro tipo de. Tinha planos para a noite.
- O trânsito não estava dos melhores. Vou tomar banho e comemos?
Ela acenou e ele seguiu em direção ao quarto; tomou o banho que tanto queria e, quando estava mexendo no guarda-roupa para escolher uma peça de roupa qualquer, ouviu a porta abrir e fechar quase num único estalo.
Lá estava a senhora tentação. Já quase não sentia fome antes, mas a forma como ela caminhou em direção a ele, roubou-lhe o estômago.
- Você parece tão tenso, meu amor... – sussurrou ela, já próxima, acariciando levemente o peito dele. – Deixa-me fazer uma massagem.
Não ousaria questioná-la, muito menos depois de descobrir que por trás da simples seda que ela vestia se escondiam delicadas rendas. Suas ganas, agora, eram de puxar-lhe o corpo, apertar-lhe a cintura, morder-lhe o pescoço, sugar-lhe o seio.
Sentiu-se enlouquecer, mas a pequena parecia ter planos de tortura para aquela noite; ela foi quem puxou, apertou, mordiscou, sugou  e fez com que esquecesse o próprio nome... Seus gemidos o faziam gemer, seus movimentos o faziam mover, seu gozo o fez gozar e nada mais importava.
Mais tarde, não lembraria se teria sido a áurea de luxúria, as mãos que ora lhe pressionavam, ora lhe acariciavam, o corpo dela friccionando-se lentamente no seu ou o calor do hálito dela em sua orelha, que o esquentaram por completo – talvez a junção de tudo –... Mas recordaria que, ao ficar de frente para ela e ver seu olhar meigamente sacana, pouco antes de sentir sua boca possuí-lo, havia pensado que nem precisara oferecer-lhe outra tequila, como em um certo dia, em um certo bar, quando petiscaram-se pela primeira vez.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012




Ele é lindo!
Mas não por seus olhos de avelã, ou por seu sorriso sedutor, suas mãos de homem ou o exalar viril de seu pescoço... É mais!
Ele é lindo porque sorri de uma forma tão sincera que a derrete; porque a abraça, erguendo-a do chão como se quisesse escondê-la do mundo, guardá-la para si, não largá-la nunca mais. 
A beleza dele está no jeito de dizer que está feliz por estar ao lado dela e em frisar que nem o mau humor matutino consegue alcançá-lo ao acordar e ver os sóis dela (ou seriam dele?).
Ele não tem noção de quão formoso fica quando diz que, por causa dela, ficará feliz o resto da semana ou fazendo uma careta seguida por um "ôw mô" de inútil repressão, num tom que só ele consegue fazer...
E a graciosidade de seus lábios quando a olha carente e diz "Amor, vem pra cá."? Meiga ignorância que não o deixa saber que não precisa chamá-la, pois como o negativo ao positivo, ela se sente atraída a ele.
Ele é adorável, não (só)por ser o responsável pela crescente felicidade dela, mas por desdobrar-se para ser tudo o que ela espera (e quer) de um homem.
Ele é lindo por fazê-la menina e ensiná-la a fazer-se mulher; por decifrar-lhe o que há de mais sincero e puro; por tocá-la por dentro tanto quanto por fora.
Ele é lindo, por amá-la e saber fazer-se amado!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012


"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.
Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço."
(deAndrade)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Lugares e Projeções

As vibrações escandalosas do celular indicavam que haviam dado o último “Boa noite” do dia e, ironicamente, o primeiro “Oi”, já que – como de costume passava da meia noite –, na ânsia de ser a última pessoa a falar com o outro, acabavam tornando-se também a primeira.
Um suspiro profundo e então paz.
Na rua vazia ecoava apenas os latidos do cão da vizinha, mas em sua mente ela ainda podia ouvir aquele timbre de voz, baixo e sensual, ao pé do ouvido.
O roncar de moto ao longe lhe arrancou um sorriso e, mesmo em meio à penumbra, conseguiu visualizá-lo chegando – arrastando-se sorrateiramente desde a esquina –, indicando com um sorriso pecador que o único barulho a ser ouvido (por enquanto) era o do silêncio.
Ela desceria, passando pelas escadas pé ante pé.
(Poderia ter sido pelo telhado, mas prezava pela própria vida).
Sentia o gostinho do risco brotando em forma de adrenalina e as veias pulsarem de ansiedade para sentir-se encostada na parede mais próxima, apertada como se a qualquer instante fosse fugir, beijada como se fosse a última vez e, mais ainda, sentir cumprir uma ameaça feita anteriormente de uma mordida em um bico de mimimi;
Tudo isso para não desperdiçar o clima perfeito que os atormentou o dia inteiro, insistindo a todo instante que fora criado para encontrarem-se.
Mas, infelizmente, fora apenas mais uma projeção.
Estavam ambos acordados, em seu lugar de direito, porém (por pura maldade) esse lugar não era o mesmo.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

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— Você é uma menininha.
— Perto de você eu consigo ser e você não sabe o prazer que isso me dá.
— Se sentir menina?
— Estar com um homem, eu só andei com moleques nos últimos anos.
           (Tati Bernardi)