terça-feira, 8 de maio de 2012

Lugares e Projeções

As vibrações escandalosas do celular indicavam que haviam dado o último “Boa noite” do dia e, ironicamente, o primeiro “Oi”, já que – como de costume passava da meia noite –, na ânsia de ser a última pessoa a falar com o outro, acabavam tornando-se também a primeira.
Um suspiro profundo e então paz.
Na rua vazia ecoava apenas os latidos do cão da vizinha, mas em sua mente ela ainda podia ouvir aquele timbre de voz, baixo e sensual, ao pé do ouvido.
O roncar de moto ao longe lhe arrancou um sorriso e, mesmo em meio à penumbra, conseguiu visualizá-lo chegando – arrastando-se sorrateiramente desde a esquina –, indicando com um sorriso pecador que o único barulho a ser ouvido (por enquanto) era o do silêncio.
Ela desceria, passando pelas escadas pé ante pé.
(Poderia ter sido pelo telhado, mas prezava pela própria vida).
Sentia o gostinho do risco brotando em forma de adrenalina e as veias pulsarem de ansiedade para sentir-se encostada na parede mais próxima, apertada como se a qualquer instante fosse fugir, beijada como se fosse a última vez e, mais ainda, sentir cumprir uma ameaça feita anteriormente de uma mordida em um bico de mimimi;
Tudo isso para não desperdiçar o clima perfeito que os atormentou o dia inteiro, insistindo a todo instante que fora criado para encontrarem-se.
Mas, infelizmente, fora apenas mais uma projeção.
Estavam ambos acordados, em seu lugar de direito, porém (por pura maldade) esse lugar não era o mesmo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário