quarta-feira, 19 de agosto de 2009

À Razão

Cérebro, algo entre o fim do ontem e o antes do amanhã,

À Razão.



Prezada senhora,

Aqui quem vos escreve é um velho conhecido o qual – para o bem de todos - manteve-se distante, porém agora necessita urgentemente de seu apoio.

Entendo que talvez, devido às minhas sucessivas “intervenções” (como alguns de seu setor comentam que a senhora fala) minhas em seus planos, a senhora não esteja disposta a perder tempo comigo. Talvez até já tenha largado esta carta, mas eu não lhe escreveria se não fosse algo realmente importante, não é mesmo? (Bom, talvez sim, mas isso não vem ao caso agora.) Além do mais é um assunto de seu interesse e – perdoe-me pelo atrevimento – responsabilidade.

Uma prisioneira que deveria encontrar-se, nesse exato momento, trancafiada e na mais absoluta exclusão, escapou de seus domínios.

E isso não é nada bom. Sim! Eu estou ciente disso apesar de sua enorme discrição – aliás, parabéns por ela! Está fazendo uma ótima encenação. -. Frisando que não foi uma descoberta feliz. Está longe de estar perto de felicidade.

A senhora deve estar se perguntando como tenho estas informações, bom tenho que lhe confessar que tenho meus informantes, porém eles são inocentes desta vez.

Então, como descobri a fuga? Eu estava trabalhando em meu novo projeto – a senhora está ciente de minhas renovações não está? O aumento frenético das cargas elétricas deve ter lhe alertado! A sensação é ótima, se me permite dizer. A senhora deveria experimentar. – E percebi mudanças que não deveriam acontecer; começando pela ação de alguns dos meus ajudantes, chegando até a alguns dados que estavam totalmente fora de ordem. Assim detectei a ação da Confusão em meus sistemas e apesar de minha enorme força de vontade, eu não possuo armas para controlá-la consequentemente aos poucos ela integra-se a todo meu setor – e se nada fizermos, em breve ao seu. – A Paixão prontamente propôs-se a ajudar-me (não se preocupe, ela é de confiança!), mas não obtivemos sucesso em nenhuma de nossas ações. Não sei mais como agir, por isto trato de escrever-lhe, não nos resta outra saída.

A senhora tem noção do perigo que estamos correndo?

Se a Confusão conseguir apoderar-se por completo do meu sistema, – algo que eu não posso impedir. – todo o nosso equilíbrio estará perdido, haverá uma guerra! Todo nosso esforço terá sido em vão. Planos não poderão ser concretizados, decisões são poderão ser tomadas; por um longo tempo não existirá o futuro que projetamos, será apenas indecisão e inconstância.

A senhora conseguiria viver neste caos? Consegue ao menos imaginar como seria?

Se conseguir, lamento dizer-lhe, mas não é nem metade do que realmente será!

Não há nada pior nem mais frustrante que viver ao lado da Confusão, submisso a ela, posso garantir. É uma sensação de impotência inexplicável e creio que eu não resistiria a toda esta situação novamente.

Eu tenho remendos, senhora, apesar de minha pouca idade sei bastante e sei principalmente que ainda tenho muito a aprender, porém de algo eu tenho certeza: Não quero que o novo caminho, o qual eu demorei tanto a iniciar, entorte-se, esvaia-se ou evapore-se como se fosse um nada!

A senhora também não quer que aconteça a mesmo não é mesmo?

Se agir de acordo com suas próprias palavras, eu sei que não!

Nosso futuro está em suas mãos. O de todos nós.

Aguardo ansiosamente.

Não sua resposta, mas sua ação.

(Espero não me decepcionar).



Grato pela atenção,

Coração.



p.s.: Quem sabe, depois que tudo isso for resolvido, possamos sair? Algo casual... Um café, por exemplo! Poderíamos mudar conceitos errados um do outro – que eu sei que existem – e aprender uns novos. O que me diz? Isso, é claro, é só uma idéia.

Um comentário: